segunda-feira, 18 de abril de 2011

A independência e o relacionar-se

     Hoje em dia todos tão sobrecarregados de tarefas desde a infância que parecemos robôs programados para a independência , para a vida competitiva. Ainda que nossos corpos não sejam como máquinas programáveis e nossas almas não acompanhem a evolução tecnológica. É como se negássemos coletivamente a existência de limites humanos, diferenças,sentimentos, sentimentos, culturas ou psiques. É como se não houvesse nem uma relação entre mente e corpo e espírito. Como haveria então uma relação adequada entre pessoas? Como relacionar-se com seres humanos com sentimentos, diferenças, limites, se somos tão independentes?

     No século passado surgiram tantos super heróis que povoam o imaginário popular, cheios de super poderes, garras , capas , asas, e capacidades além das que nós humanos , mortais e limitados jamais poderemos almejar que, parece que estamos projetando os desejos de sermos mais do que podemos ser nesses personagens. Estamos nos esquecendo de nos alegrar com o que somos, que mesmo  com defeitos e limitações, merece nossa valorização e desfrute.

     Muitas vezes aceitar nosso lado frágil, dependente, que nos torna menos robôs, mais humanos, mais necessários aos outros e mais abertos ao que o outro tem a nos oferecer também. Que bom que somos tantos e tão diferentes nesse mundo. Que bom que cada um pode contribuir com uma parte.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Quanto vale o coração de um homem?"

     Numa semana de sentimentos intensos , onde minha saúde cardíaca está sendo testada , li a frase impactante do título do texto de hoje  no MSN de um paciente *. Além disso, tive várias oportunidades, algumas surreais, de observar como as pessoas se relacionam, compreendo sua dor. Junto-me a ele no time dos que estão de coração quebrado e sentem nada valer os sentimentos mais nobres e verdadeiros nesse mundo cruel!

     As pessoas tem realmente desejado se relacionar? Tem realmente colocado energia , empenho, vontade, sentimento, força, algo realmente seu para que as relações se dêem? O que vejo é que as pessoas brincam de se relacionar, como  crianças que interpretam papéis de  namorados, maridos ou esposas de forma caricata e se contentam com isso, mesmo não sendo mais crianças. Ficam só com o aperitivo do relacionamento. Num mundo onde tudo é virtual, nada é de verdade esse tipo de relação faz mesmo todo sentido, pois nada mais é que uma grande ilusão, um faz-de-conta pra não ficarmos sós pois a natureza humana é relacionar-se.

     "Quanto vale o coração de um homem?"  Eu te digo meu caro, que ele vale muito , mesmo estando rachado. Pois vale quanto mais for capaz de se relacionar-se e escapar dessa armadilha atual de temer viver . Coração bate, forte, devagar, apertado, lento mas depois se enche de vida de novo. Coração duro é que é coração doente.

                                                                 * Autorizado Por Victor D. Santana

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Massacre e a Psicologia

     Resta-nos , depois do massacre da Escola Municipal Tasso de Oliveira no Rio de Janeiro  fazer o rescaldo. Trabalho triste, mas necessário para evitar novas tragédias. Esse trabalho começa com muitas questões. Levantando os escombros dessa  história macabra anunciada. 
1)Porque nessa escola no Realengo onde Wellington Menezes de Oliveira estudou e apresentou tantos sintomas de sua esquizofrenia desde sua infância não havia uma psicóloga para detectar seus problemas?
2)Porque não existem psicólogos escolares em escolas para fazer esse trabalho preventivo?
3)porque pouco se fala de psicologia, saúde mental, de doença mental mesmo numa fatalidade como essa onde o fator desencadeante é esse?
4)Porque os especialistas convidados a falar eram educadores, delegados, políticos, médicos, professores e não psicólogos?
5) Porque pouco se fala em psicologia mesmo como uma das especialidades da áreas da saúde?

     Ainda estamos envoltos em muito misticismo e pré conceito quando falamos das doenças mentais, da loucura. mais fácil colocar esse tema tão difícil para baixo do tapete ou deixá-lo quieto, numa carteira do canto da sala , sem que nos incomode. Será que foi isso que aconteceu com os professores que não sendo incomodados e não viram atos agressivos e sem ter a um especialista a quem perguntar deixaram que sintomas de esquizofrenia fossem deixados de lado?

     Creio que o pré-conceito com relação aos psicólogos em parte se explica pelo medo da doença Isso também explicaria, em parte, a ausência do psicólogo nos serviços de saúde. Mas outra parte do problema parece ser a herança histórico religiosa católica. Na época da inquisição a Igreja Católica fez a caça ás bruxas fazendo um paralelo do que parece estar presente na mente contemporânea, as Psicologia e bruxaria são basicamente ligadas ao mundo feminino, muito desvalorizado pelo machismo , Psicologia e bruxaria estão ligadas á cuidar das doenças mentais , á cuidar das relações familiares e afetivas( as bruxas sempre uniram os casais como ainda fazem hoje as Mães de santo!), então á Psicologia e a bruxaria sempre estiveram ligadas ao cuidado com o que esteve á margem, o louco, á sombra, o oposto á luz, que por isso foi ligado ao mal, ou ao demoníaco e por isso elas foram queimadas na fogueira. Hoje em dia ninguém mais pode ser queimado na fogueira. Mas quem lida com louco , não deve ser muito normal. Isso todos já devem ter ouvido.

     Acredito que no imaginário da sociedade , nós psicólogos e psicólogas, que trabalhamos com a sexualidade, orientamos questões familiares complexas, mostramos feridas sociais, falamos de mitos e sonhos, olhamos o sofrimento humano que ninguém quer ver, podemos ser vistos sim, como muitas vezes as causadoras do mal e não instrumentos de transformação á serviço da saúde humana, que algumas vezes causam dor, como um bisturi, que estirpa um tumor, mas não é o tumor.

     Psicologia é pra psicólogos!
     Pensemos nisso.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Despedidas

     Tem o dia de chegar e o dia de ir. O começo e o fim. Porque será que o começo tem um sorriso e o fim tem uma lágrima como símbolo? Hora de fechar as gavetas, deixar um amor, mudar de vida, hora difícil, cheia de incertezas, cheia de coragem. Hora de seguir o rio da vida que leva a gente pra frente e vai deixando gente , coisas, histórias, experiências e sentimentos pra trás, sem nem perguntar se queremos.

     É como o maldito alarme que toca de manhã no melhor do sono pra gente viver um dia novo e nos tira de sonhos bons. Mas é assim. Mais um dia chegou , o sol nasceu e tá na hora de ir em frente. Logo chegarão outros amanhãs e esse dia choroso será passado. O começo será novamente sorrisos, brisa fresca, aventura,caminho aberto pra viver o novo.

     Mas só hoje, deixa eu chorar essa despedida.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

NÃO

     Por volta dos dois anos de idade aprendemos a dizer a palavra não. Não só repetir a palavra como um papagaio, mas sabendo seu significado, usando-a para negar, rejeitar, escolher, enfim , começar a exercer a própria identidade.

     O não, então, está a  nosso serviço. Ele é uma arma de escolha, de afirmação, de amor próprio. Claro que se dizemos não , dizemos á alguém ou á alguma coisa e essa é a dificuldade de dizer não. As crianças dizem sem medo nenhum. Mas nós adultos muitas vezes tememos a reação que esse não vai causar, já que ninguém gosta de ouvir um não. Muitas vezes para não desagradar o outro nos desagradamos e dizemos sim, esquecendo de nós mesmos.

     Pensando nisso, que sua própria identidade está em jogo, que tal por na balança e ver se vale a pena desagradar o outro ou você mesmo, ou se vale a pena encarar um conflito, que faz parte da vida e ser quem você é realmente, proteger um valor realmente importante, ou não se deixar falar como um papagaio com as palavras que os outros  colocaram na sua boca?Enfim,preste atenção se você ao dizer sim aos outros , não está dizendo não a si mesmo.